segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

PRECURSORES DE GUNTENBERG


Acredita-se que a invenção da imprensa ocorreu com o uso dos tipos móveis. Durante muitos séculos, praticou-se a impressão de letras, números e outros caracteres em diversas formas e sobre diferentes materiais, como o confirmam antigas moedas, selos, xilografias e encadernações. Ou seja, o sistema de impressão não deu um "salto" entre os manuscritos e a imprensa de tipos móveis - nesse intervalo, foram desenvolvidas técnicas variadas de impressão.

Estas impressões e seus métodos já eram conhecidos no século XV, quando Gutenberg inventou o sistema de tipos móveis de memtal, que podiam ser utilizados como as letras do alfabeto, os números e outros caracteres, em todas as combinações possíveis para imprimir qualquer texto que se desejasse.

O conhecimento da evolução das formas de impressão que precederam à dos tipos móveis, é essencial para que se possa avaliar a obra de Gutemberg. Se os homens não estivessem familiarizados com esses processos mais simples de impressão, seria difícil que se pudesse chegar diretamente à tipografia.
ERROS
E
INTERPOLAÇÕES


Os erros eram comuns quando os copistas faziam transcrições. Afinal, errar é humano!!

Os autores se queixavam, com freqüência, dos copistas e as autoridades universitárias tiveram de tomar medidas, a fim de assegurar para seus alunos textos mais fiéis. No entanto, continuaram a aparecer erros, cuja presenaç, nos manuscritos, justifica o seguinte comentário.

Utilizavam-se os serviços de revisores para os manuscritos, prática que ainda segue, atualmente nas casas editoras, que se esmeram na beleza e precisão das obras que publicam.

O revisor medieval acrescentava, ao final do manuscrito revisto, uma legenda acompanhada de sua assinatura, como prova de haver corrigido o texto. Usou-se muito, para indicar tais revisões, a seguinte forma, escrita em latim, que era a linguagem cultural da Idade Média: Legi, enmendavi, contuli, relegi (Li, corrigi, comparei e reli).

As correções davam atenção especial à ortografia e à acentuação. Às vezes, quando o copista não entendia uma passagem em outro idioma (que, geralmente, era o grego), fazia uma advertência ao leitor nesse sentido: Graecum est, non legitur (Isto é grego, não foi lido).

Outras vezes, o copista ou o revisor, juntava notas ou interpolações ao texto que tinha sido objeto de estudo por parte de filologos e historiadores, que podiam oferecer novas considerações e influir na interpretação do próprio texto.

FONTE DA IMAGEM:
copista:
http://scuole.provincia.terni.it/marconibiblioteca/images/copista.gif

FONTE DO TEXTO:
LITTON, G. O livro e sua história.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

ESCASSEZ DE MATERIAL

ABREVIATURAS

As abreviaturas permitiram aos copistas condensar o texto, economizar espaço e reduzir o tempo empregado na transcrição. Estas tres poderosas razões explicam porque os escribas as usaram tão largamente. Mais de 5.000 contrações de palavras latinas foram utilizadas na transcrição de manuscritos, entre os séculos VII e XVI; na Inglaterra, só nos documentos latinos oficiais do período do reinado dos Tudor (1485-1603), encontram-se mais de 1.000 contrações de palavras. As abreviaturas abundavam também na escrita gótica.
A dificuldade em decifrar manuscritos medievais deve-se, não só ao uso de abreviaturas como também às contrações e ligaduras cuja compreensão requer estudos de paleografia e caligrafia.
Tipos de abreviaturas:
As abreviaturas são classificadas em cinco categorias diferentes, como segue:
1. Siglas:
era muito comum usar a primeira letra de cada palavra, em vez de escrever as palavras completas. Os seguintes exemplos, empregados até nossos dias, datam dos manuscritos dos escribas medievais:
D.O.M. (Deo Optimo Maximo);
R.I.P. (Requiescat in pace);
A.D. (Anno Domini).
2. Palavras incompletas:
Em lugar de escrever toda a palavra, encurtavam-nas, colocando uma linha horizontal em cima, para indicar a abreviatura.
Exemplos:
Ds (Deus);
ap (apud).
Este tipo de abreviatura se chama apócope (do grego cortar, ou seja, omitir o último som ou última sílaba de uma palavra).
3. Suspensão:
Algumas letras são suprimidas, freqüentemente, no meio da palavra.
Exemplos:
Ilmo. (ilustríssimo);
afmo. (afetuosíssimo);
dieb. (diebus).
4. Letras sobrepostas:
Indicam a supressão de uma letra ou, então, a terminação da palavra.
Exemplos:
qi (qui);
qº (quo);
pbro. (presbítero);
Nª Sª (Nossa Senhora).
5. Sinais especiais:
Para facilitar a transcrição das palavras usadas frequentemente, imaginaram-se sinais arbitrários diversos. Alguns deles advertem o leitor sobre:
a) uma passagem de muita importância;
b) um texto considerado inconveniente ou imoral;
c) um texto bíblico com vários sentidos.
FONTE DO TEXTO:
LITTON, G. O livro e sua história. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1975.


ESCASSEZ DE MATERIAL


Até que o papel pudesse ser fabricado à máquina, fato que, pela primeira vez, o colocou ao alcance das massas, era difícil conseguir material para escrever. Esta escassez deu origem a dois costumes, praticados pelos copistas na transcrição de livros manuscritos: o dos palimpsestos e o das abreviaturas.

# PALIMPSESTOS

Essa palavra vem do grego palin, novamente e psestos, raspado. Refere-se à técnica de apagar o texto de manuscritos velhos, para escrever novamente sobre eles. Este processo, imposto pela escassez do pergaminho, ao mesmo tempo em que aumentava o volume dos livros que deviam ser copiados, estendeu-se também às tabuinhas enceradas, ao papiro e a outros materiais. O papiro era demasiadamente delicado e não se podia apagar bem; mas, como a escrita, geralmente, ocupava um só lado da folha, pode-se utilizar o reverso para as transcrições de novos textos. Durante a Idade Média,quando esta prática estava em seu apogeu, utilizaram-se muitos manuscritos de autores clássicos para reproduzir obras posteriores. Felizmente, os textos originais não ficaram totalmente apagados e, com, o auxílio da fotografia com raios infra-vermelhos, a obra mais antiga e valiosa pôde ser, pelo menos, em grande parte, recuperada. Encontraram-se pergaminhos usados, sucessivamente, para copiar tres textos diferentes. A utilização de uma lâmpada de cristal de quartzo produtora de raios ultravioletas, torna visível a escrita original; este processo é chamado de anastasiografia, palavra que, etimologicamente, significa "ressureição da escrita".
FONTE DO TEXTO:
LITTON, G. A historia do livro.
ENCADERNAÇÃO



A encadernação, da mesma maneira que as outras operações da confecção do livro, passou por uma longa evolução, cujo início se perde na remota antiguidade.


Breve história da encadernação

Séc. VIII - XI


Surgiram as encadernações em pele de cervo, porco e tecido.
Cabeceado de alinhavo, sendo as capas de madeira grosseira.
Guardas ausentes ou havia uma de pergaminho.
Cortes aparados.
Decoração simples.


Séc. XII - XIII

Cobertura de antílope, couros tingidos e pergaminho.
Costura sobre nervos.
Pranchas de madeira como capas.
Lombadas achatadas ou ligeiramente arredondadas.
Cabeceado em ponto de seleiro.
Cortes aparados.
Títulos sobre os cortes.
Guardas de pergaminho.
Decoração mais variada, com fechos.


Séc. XIV - XV

Surgimento da tipografia, com conseqüente aumento do volume de livros e da encadernação. Livros menos imponentes. Surgem novas técnicas e materiais.
Passagem do pergaminho ao papel. Utilizam-se vaqueta, carneiro e porco. Meia encadernação (fim do séc. XV).
Encadernações de tecidos (sedas-brocados).
Costura sobre nervos. Lombada começa a arredondar-se. Nervos salientes, em geral duplos marcados na pele.
Cabeceado trançado de fio ou tirinhas de pele.
Guardas de pergaminho ou papel branco.
Surgem os cortes decorados, dourados ou coloridos para manuscritos. Decoração com filetes ou ferrinhos estampados a frio. Placas, cantoneiras e fechos.

Séc. XVI

Aparecem as encadernações de pequenos formatos.
Estilos da renascença, incluindo as encadernações Aldinas (os Aldi foram famosos encadernadores e impressores em Veneza).
Em Paris e Lyon, surgem oficinas de livreiros e encadernadores. O bibliófilo Jean Groglier, marca um estilo com suas encomendas, com entrelaços nas capas.
Coberturas de tecido até 1530. Vaqueta lisa era mais freqüente.
Aparecimento do marroquim tingido de várias cores nas encadernações de luxo a partir de 1537. No final do século aparecem as encadernações flexíveis em pergaminho.
Costura de nervos marcados e banda de pergaminho reforçando o entrenervo da cabeça e do pé. Cabeceado simples à passamanaria (tipo espanhol) à chapiteau (tipo grego).
Guardas de papel branco ou pergaminho.
Desaparecimento das pranchas de madeira como capas.
Papelões compostos de papéis contra-colados.
Cortes aparados, dourados ou cinzelados para encadernações de grandes ornamentos. Lombada pouco decorada, sem título, depois florões e título incompleto.
Capas estampadas a frio.
Aparição das dourações.

Séc. XVII

Cobertura de pergaminho, pele de carneiro, marroquim e vaqueta para encadernações de luxo. Costura sobre nervos simples ou duplos. Lombada com banda de pergaminho reforçando o lombo. Cabeceado em cores. Guardas brancas até 1640, depois coloridas, penteado fino a sete cores. Capas de cartões rígidos feitos com várias camadas de papéis. Cortes aparados, pintados de vermelho ou azul e dourados para as encadernações de luxo. Decoração no início, com riqueza de ornatos, depois, de excessiva sobriedade no final da época de Luiz XIV. Título no 2º entrenervo. Fim do século, moldura rendada, de um modo geral fineza nos ferros.

Séc. XVIII

Cobertura pleno couro.
Meia encadernação para os livros comuns no final do século.
Marroquim para as encadernações de luxo.
Costura entre nervos.
Lombada com nervos longos no final do século.
Cabeceado de várias cores.
Guardas de seda ou couro.
Papéis de cores variadas.
Capas de papelões de várias camadas.
Cortes tingidos de vermelho, às vezes marmorizados e dourados para os de luxo.
Títulos inteiros no final do século.
Algumas encadernações com mosaicos.
Surge a decoração com estampagem ou impressão com placa matriz, substituindo os ferros avulsos.

Séc. XIX

Aparecimento da encadernação industrial, cartonagem simples ou a la bradel, capa solta.
De 1830 a 1850 expande-se a encadernação francesa, com reflexos em Portugal e no Brasil. Aparecimento da costura sobre cadarços.
Nervos falsos.
Cortes marmorizados combinando com as guardas.
Cortes dourados nas encadernações de luxo.

Séc. XX

Encadernações em couros diversos, percaline (tecido recoberto com resina não plástica colorida; não confundir com produto do mesmo nome comercializado no final do século, composto de tecido e plástico).
Semana de 22, surgem florões e estilos de encadernações alusivos ao evento.
Encadernações meia cana/canaleta, início do século, muito resistente e lombo quadrado para folhas soltas, final do século, resistência e abertura deixando a desejar.

Bibliografia:"Resumen de las principales caracteristicas de las encuadernaciones en el curso de los ciglos" (infelizmente não foi possível identificar o nome do autor do trabalho)

FONTE DO TEXTO:

LITTON, G. História do livro.
http://www.usinadolivro.com.br/brevehistoria.htm



CALIGRAFIA

A caligrafia é a arte da escrita decorativa; o termo deriva do grego kallos, beleza; egraphein, escrever. Floresceu desde o século III antes de nossa era até fins da Idade Média e declinou, até quase desaparecer, com a invenção e difusão da imprensa e, mais recentemente, com a máquina de escrever. A forma de escrita adotada na transcrição à mão, dos livros e manuscritos, variava de século para século e de um país para outro.

É um termo usado para qualquer tipo de escrita à mão. Mas é tradicionalmente a arte de escrever manualmente os signos (fonéticos ou ideográficos) com as qualidades da elegância, uniformidade e beleza.
PALEOGRFIA:
A paleografia é a ciência que estuda a origem, a forma e a evolução da escrita, independentemente:
# do tipo de suporte físico onde foi registada;
# do material utilizado para proceder ao registo
# do lugar onde foi utilizada e do povo que a utilizou;
# dos sinais gráficos que adotou para exprimir a linguagem.

FONTES DO TEXTO:
LITTON, G. O livroe sua história.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caligrafia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paleografia

FONTE DAS IMAGENS:
http://www.defatima.com.br/saladeaula/caligrafiaindice.htm

quinta-feira, 28 de junho de 2007

O LIVRO DE HORAS DO DUQUE DE BERRY

Os quadros apresentados a seguir fazem parte do Calendário das Riquíssimas Horas. Pintado entre 1412 e 1416, constitui a mais bela parte do manuscrito e, certamente, um dos mais belos tesouros da França. Esse livro de horas, hoje conservado no Musée Condé, em Chantilly (França). Cada quadro representa um mês do ano.

MÊS DE JANEIRO

O mês dos presentes de Ano Novo. Em certas famílias, não se celebrava o Natal — dava-se a cada ano um presente, chamado étrennes. Esta palavra remonta a um costume romano segundo o qual o patrão oferecia um subsídio anual a seus clientes. (do latim strena, em português resultou estréia.)

MÊS DE FEVEREIRO

O inverno numa aldeia de camponeses. Vemos os habitantes se aquecendo junto ao fogo, enquanto no segundo plano a vida cotidiana — corte da madeira, conduzir os animais à feira — segue seu curso.
MÊS DE MARÇO
Primeiros trabalhos agrícolas do ano, semeadura, lavra e outros. O castelo que se avista ao fundo é o de Lusignan, um dos preferidos do duque.
FONTE DAS IMAGENS:

domingo, 24 de junho de 2007

LIVRO DAS HORAS

O Livro das Horas é um tipo de manuscrito iluminado comum à Idade Média. Cada Livro das Horas contém uma coleção de textos, orações e salmos, acompanhado de ilustrações apropriadas, para fazer referência a devoção cristã.
Em sua forma original o Livro das Horas servia como conteúdo de leitura litúrgica para determinados horários do dia. Os Livros das Horas estão entre os manuscritos mais belos e ricamente ilustrados da Idade Média.
OS LIVROS DE HORAS DO DUQUE DE BERRY
O mais conhecido e o mais belo entre os Livros de Horas, foi executado, por encomenda do duque, pelos irmãos Limbourg. O duque e os artistas, porém, morreram antes do término da obra, cujas miniaturas exibem, num colorido luminoso, admiráveis representações da vida cotidiana.
Dentre as originalidades da obra, os especialistas apontam a prioridade dada às paisagens, tratadas com um realismo extremo. Pela primeira vez, a paisagem é vista como um motivo independente: as cenas se desenvolvem sob um céu anilado, em contraste com uma arquitetura perfeitamente delineada. É a descoberta do céu como elemento expressivo e, ao mesmo tempo, a descoberta da superfície da Terra como palco onde se desenrolam cenas da vida cotidiana.
Conhecido como O Príncipe dos Bibliófilos, João de França, Duque de Berry (1340-1416), filho, irmão e tio de reis de França, não deixou boa lembrança como político e governante. Mas era um profundo apreciador das artes, e possuía imensa fortuna. Colecionador apaixonado de obras artísticas (colecionava castelos, rubis, avestruzes...) reservava o melhor de seu entusiasmo para os Livros, principalmente os iluminados, que comprava ou mandava copiar e ornar, ele mesmo orientando todas as fases do trabalho, já que dominava os segredos do ofício e era homem de gosto apurado. Reunindo a seu redor os artistas mais famosos da época, conseguiu formar a mais luzidia coleção particular de manuscritos de todos os tempos, que incluía nada menos que 15 Livros de Horas, 14 Bíblias, 16 saltérios, 18 breviários e 6 missais.
Os Iluminadores
Desde o século XII, começaram a instalar-se nas principais cidades européias vários ateliês laicos de iluminura, formados por profissionais que paulatinamente foram arrebatando às comunidades religiosas a edição de manuscritos — pondo fim ao secular monopólio eclesiástico.
As riquíssimas Horas foram pintadas pelos três irmãos Limbourg — Paul, Hermann e Jean, artistas flamengos contratados pelo duque de Berry por volta de 1405. Os Limbourg utilizaram uma grande variedade de cores obtidas através de minerais, plantas ou produtos químicos, misturados com goma arábica para ligar a tinta. Entre as cores incomuns que utilizaram estão o verde íris, obtido esmagando-se flores e massicote (óxido de chumbo), o azul ultramarino, feito de lapis-lazuli orientais triturados. Esta cor era usada para representar os azuis brilhantes. Era, evidentemente, de um valor inestimável! Os detalhes extremamente precisos são característicos do estilo dos Limbourg, que exigia lupas e pincéis finíssimos.
Os quadros apresentados a seguir fazem parte do Calendário das Riquíssimas Horas. Pintado entre 1412 e 1416, constitui a mais bela parte do manuscrito e, certamente, um dos grandes tesouros da França.
FONTES DO TEXTO E DAS IMAGENS:

I L U M I N U R A S

Uma iluminura era um tipo de desenho decorativo, frequentemente empreendido nas letras capitulares que iniciam capítulos em determinados livros, especialmente os produzidos nos conventos e abadias medievais. Foi considerada um ofício bastante importante no contexto da arte medieval, constando de grande parte dos livros produzidos durante a Idade Média.

Um manuscrito iluminado seria estritamente aquele decorado com ouro ou prata, mas estudiosos modernos usam o termo "iluminura" para qualquer decoração em um texto escrito.
A arte dos bárbaros que conquistaram o Ocidente era portátil, baseada em objetos pequenos. Após a conversão para o Cristianismo, essa arte decorativa se traduziu nas iluminuras.

Iluminura é a ilustração sobre o pergaminho de livros manuscritos (a gravura não fora ainda inventada, ou então é um privilégio da quase mítica China). O desenvolvimento de tal genero está ligado à difusão dos livros ilustrados patrimônio quase exclusivo dos mosteiros: no clima de fervor cultural que caracteriza a arte gótica, os manuscritos também eram encomendados por particulares, aristocratas e burgueses. É precisamente por esta razão que os grandes livros litúrgicos (a Bíblia e os Evangelhos) eram ilustrados pelos iluministas góticos em formatos manejáveis.

Durante o século XII e até o século XV, a arte ganhou forma de expressão também nos objetos preciosos e nos ricos manuscritos ilustrados. Os copistas dedicavam-se à transcrição dos textos sobre as páginas. Ao realizar essa tarefa, deixavam espaços para que os artistas fizessem as ilustrações, os cabeçalhos, os títulos ou as letras maiúsculas com que se iniciava um texto..

Da observação dos manuscritos ilustrados podemos tirar duas conclusões: a primeira é a compreensão do caráter individualista que a arte da ilustração ganhava, pois destinava-se aos poucos possuidores das obras copiadas, a segunda é que os artistas ilustradores do período gótico tornaram-se tão habilidosos na representação do espaço tridimensional e na compreensão analítica de uma cena, que seus trabalhos acabaram influenciando outros pintores.

FONTE:







MANUSCRITOS E CÓDICES

Antes da invenção da imprensa, todo material era copiado à mão. Vejamos, agora, a etimologia dos termos relacionados a esta atividade.

A palavra manuscrito vem do latim manus, mão e scriptus, escrito. O manuscrito é um papel ou livro escrito a mão, particularmente se tem algum valor, por sua antiguidade ou por se referir ou conter anotações do próprio punho e letra de algum escritor ou personagem célebre.

A palavra latina codex (plural, códice) quer dizer "cepo, tronco com raízes", significado que confirma a origem vegetal dos materiais empregados para escrever. Dá-se esse nome a um conjunto de folhas escritas a mão, em manuscritos geralmente de forma retangular, de papiro ou de pergaminho. A expressão códice manu scripti explica-se por uma tradução literal, isto é, livros escritos a mão.

Forma:

No século IV da era comum, o manuscrito tinha forma quadrada (em latim, liber cuadratus), por porvir, segundo se crê, das tábuas enceradas dos gregos e romanos. O manuscrito quadrado tinha somente três ou quatro colunas por página. Mais tarde, apareceu a forma aumentada de fólio em que, geralmente, era o texto dividido em duas colunas. As páginas não tinham numeração e o códice não apresentava folha de rosto; marcava o início do texto a palavra latina Incipit ("começa") ou fórmula semelhante.


Temas:
Os manuscritos eram, predominantemente, de cárater religioso (bíblias, missais, livros de orações, sermões e outros escritos teológicos).

Entre os livros profanos, figuravam tratados de legislações, medicina, história natural e astrologia, além das obras clássicas dos grandes autores gregos e romanos.

Só mais tarde apareceram obras de cárater popular, como crônicas e romances.

Idiomas: A maioria dos manuscritos era escrito em latim. Depois da queda de Roma, começaram a aparecer cópias em línguas vernáculas de diferentes línguas.

FONTES:

DO TEXTO:

GASTON, L. O livro e sua história. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1975.

DAS IMAGENS:

http://redescolar.ilce.edu.mx/redescolar/act_permanentes/faro/tres%20anillos%20tres%20religiones/sesion5.htm


OS MANUSCRITOS


Às plaquetas de argila e aos rolos de papiro da antiguidade, sucederam-se os livros manuscritos, que, por mais de um milênio, foram o principal veículo de transmissão de idéias.

Os manuscritos constituem um elo essencial, na cadeia da comunicação escrita. O homem o criou, através da experiência, em sua perpétua busca por uma forma de expressão permanente, para assegurar a imortalidade às suas melhores inspirações.

Os livros foram copiados laboriosamente a mão, primeiro pelso escravos cultos e pelos amanuenses, a soldo de cidadãos apaixonados pelas letras, durante a antiguidade e, mais tarde, pelos monges dos mosteiros da Europa, ao longo da Idade Média.

Depois da queda de Roma, quase todos os livros eram copiados, ilustrados e encadernados nos mosteiros, que tinham a seu cargo esta importante função. Sem dúvida, as literaturas grega e romana, clássicas, mas profanas, devem sua sobrevivência à atividade prolífica dos escribas cristãos que, em uma frenética corrida contra o tempo, transcreveram e livraram de uma inexorável destruição as obras dos chamados autores pagãos.

Os livros medievais normalmente pertenciam a grupos de pessoas, serviam às necesidades de uma comunidade religiosa e eram compartilhados por todos.

  • ==> Instrumentos de um copista. Tinteiro, penas,compassos, tesouras ... (Representação feita sobre um frontispício que ornamenta um tratado de caligrafía composto em 1524 pelo italiano Giovanni Andrea Tagliente)
A regra de São Bento:

Foi São Bento que dispôs, na Regra para os membros da comunidade por ele fundada, que os irmãos deviam consagrar várias horas por dia à leitura das obras divinas. Esta obrigação exigia-lhes transcrever, primeiro, os volumes a serem lidos.

FONTE:
IMAGEM DOS INSTRUMENTOS DO COPISTA:

sábado, 23 de junho de 2007





ACESSÓRIOS

OS ÓCULOS

Por que falar de óculos num blog sobre livros e afins? Sem eles certamente muitos dos nós, usuários deste objeto, não seríamos mais leitores, quem sabe até precisaríamos de alguém - de vista boa - que lesse para nós. Graças a esse objeto podemos prolongar o nosso tempo como leitores; também graças a ele os escritores podem continuar escrevendo as suas obras, divulgando as suas idéias, experiências e emoções. É, portanto, um duplo benefício...

Desde a Antiguidade, a história do homem na Terra é marcada por tentativas de enxergar mais e melhor. Os primeiros registros históricos sobre a existência de lentes rudimentares foram escritos na China pelo filósofo Confúcio, em 500 a.C. Essas lentes primitivas eram feitas de cristais com um polimento tosco. Não eram óculos propriamente ditos, como os conhecemos hoje em dia. Acreditava-se que tinham várias propriedades medicinais além de prolongar a vida das pessoas. Tinham a força do amuleto mas ainda eram de uso visual limitado.

Mesmo durante o Império Romano ainda não existiam óculos. Marcus Tulius Cícero, senador de Roma, grande escritor e eloqüente orador, em 62 a.C. escreveu uma carta a seu amigo Atticus, mencionando que a idade estava chegando e sua visão vinha diminuindo a ponto de já não conseguir mais ler sozinho. A solução encontrada foi que Cícero teve que comprar escravos especialmente para ler.

Embora Ptolomeu, no Egito, descobrisse leis ópticas fundamentais da refração da luz por volta do ano 150 da era cristã, somente na Idade Média os monges começaram a desenvolver a chamada "pedra de leitura", segundo as teorias mais aperfeiçoadas do matemático árabe Alhazen, que viveu em Basra aproximadamente no ano 1000 depois de Cristo. Essa pedra funcionava como uma lupa primitiva que aumentava o tamanho das letras, e era composta basicamente de cristal de quartzo hialino ou de pedras semipreciosas que tinham lapidação e polimento. Uma das pedras mais cobiçadas era o berilo por seu brilho, beleza e grande transparência. Aliás, foi do seu nome que derivou a palavra "brilho".

Em 1267, o monge franciscano britânico Roger Bacon, conhecido como "Doutor admirável", conseguiu demonstrar que pessoas com deficiência visual conseguiam ver melhor através de lentes lapidadas, levando ao papa um exemplar de uma dessas lentes de leitura.

Naquela época, os antigos viajantes que se aventuravam e conseguiam retornar vivos das viagens ao Extremo Oriente contavam que os chineses já faziam uso de óculos no início do primeiro milênio da era cristã. Marco Polo relatou em seu livro sobre suas viagens ao Oriente que óculos eram de uso corrente na China, na corte de Kublai Khan, por volta do ano 1275 a.d.

Entretanto, a verdadeira origem dos óculos tem levantado muitas conjecturas e controvérsias e nem todas são baseadas em evidências históricas precisas. De fato, não existiu um único inventor dos óculos, mas inúmeras pessoas anônimas, tanto no Oriente quanto no Ocidente, que foram contribuindo aos poucos, ao longo dos anos, para aperfeiçoar o valioso instrumento visual para a humanidade.

Tudo indica que uma armação montada com um par de lentes para se colocar na frente dos olhos, com a finalidade de leitura, surgiu em Veneza entre 1270 e 1280, pois essa próspera cidade e a vizinha ilha de Murano dominavam o comércio de vidro naquela época. Ao mesmo tempo também, no Extremo Oriente, desenvolvia-se na China o aperfeiçoamento dos óculos, pois o conhecimento se intercambiava depressa ao longo das rotas de comércio na Ásia Central abertas por Genghis Khan.

É interessante citar que na igreja Santa Maria Maggiore de Florença, no túmulo de Salvino d'Armato, morto em 1317, está gravada na sua lápide a seguinte inscrição: "Aqui jaz Salvino d'Armato, de Florença, Inventor dos óculos; Deus perdoe seus pecados. Anno D. MCCCXVII". No entanto essa paternidade é contr oversa, a começar pela construção do seu próprio túmulo com um busto de um desconhecido greco-romano do ano 100 a.d.

Jóias como símbolo do saber

Na Renascença, o desenvolvimento intelectual e cultural aumentou de forma muito acentuada paralelamente ao desenvolvimento técnico e científico. E certamente existiram dois grandes marcos nessa evolução: um foi a invenção tipográfica por Gutenberg em 1440, e o outro a invenção dos óculos que possibilitou a leitura das letras pequeninas que surgiram com a imprensa. Naquela época, usar óculos significava ter um grande saber, denotava cultura e erudição e era símbolo de status e nobreza. Na Europa daqueles tempos, os pioneiros na fabricação de lentes de cristal lapidado e vidros ópticos foram os vidreiros de Veneza, ficando famosa a oficina de arte vidreira de Murano. Lá foram produzidas as primeiras lentes lapidadas para a civilização ocidental enxergar melhor. Aos poucos esse conhecimento foi se difundindo e se estabelecendo em outras cidades da Europa, tais como Nuremberg e Augsburg na Alemanha, e Rouen e Flandres na França.

Entretanto, não se encontravam óculos por toda parte. Eles eram raros, custavam caríssimo e eram considerados verdadeiras jóias. Seu valor era tal que eram relacionados em inventários de bens de família e deixados em testamentos como herança, assim como fez Carlos V, O Sábio, rei da França (1364-1380).

Existe um registro histórico na China, durante a dinastia Ming (1260-1368), segundo o qual um rico senhor trocou uma parelha de finos cavalos de raça por um par de óculos.

Uma dessas primeiras pedras de leitura é representada fielmente no livro e no filme de Umberto Eco O Nome da Rosa, em que ele mostra bem o grande valor e poder que essas pedras tinham naquela época.

No início eles começaram a ser usados somente para a visão de perto, para leitura, para corrigir a presbiopia ou "vista cansada". Aos poucos passaram a ser usados também para a correção da hipermetropia. Entretanto, o primeiro registro do uso para a miopia só foi feito em 1441 por Nicolaus Cusanus em seu livro De Berillo. Já a correção do astigmatismo, por meio de lentes cilíndricas, só aconteceu bem mais tarde, na Inglaterra, em 1827. Antes disso, em 1611, Kepler já havia introduzido o uso de prismas. E, em 1784, Benjamin Franklin, o famoso estadista americano, que também era inventor, cientista e filósofo, inventou os bifocais, que tanto benefícios trouxeram às gerações futuras. A introdução dos multifocais só foi possível há relativamente pouco tempo, com o avanço da tecnologia de fabricação de lentes nos anos 70.

A primazia das idéias relativas às lentes de contato está registrada nos escritos de Leonardo da Vinci (1452-1519). Apesar de outros antigos estudos teóricos realizados por René Descartes em 1637 e Thomas Young em 1827, a lente de contato só saiu do anonimato das pesquisas e se popularizou após 1950.

Na literatura e nas artes

A primeira manifestação dos óculos nas artes é um quadro de Tommoso da Morena, datado de 1352, que está na Igreja de São Nicolo, em Treviso, na Itália. Representa o rosto do cardeal Hugo de Treviso usando um daqueles óculos primitivos que consistiam de duas lentes redondas com aros de metal unidas por um pino central em cima do dorso do nariz.

São Jerônimo, padroeiro dos óticos, tradutor da Bíblia para a língua latina, conhecida como Vulgata, sempre é representado junto com um leão, uma caveira e um par de óculos. Entretanto essas pinturas, realizadas em datas bem posteriores, têm um caráter simbólico, pois na época em que viveu (347-420) os óculos não tinham sido ainda inventados. Na linguagem simbólica dos místicos cristãos podemos entender o leão como representando a força e a coragem, a caveira simbolizando a mortalidade do homem carnal e os óculos significando a visão, tanto a exterior, dos olhos como órgãos dos sentidos, quanto a visão interior da consciência.

Na literatura, o livro mais antigo que trata dos óculos é o trabalho de Nicolaus Cusanus, publicado em 1441, intitulado De berillo. Depois vem o Uso de los antojos de Benito Daça de Valdes (Sevilha, 1623). E L'occhiale all'occhio de Carlo Antonio Manzini (Bolonha, 1660).

Os óculos não nasceram com este aspecto que hoje conhecemos. Percorreram um longo caminho, modificando-se aos poucos até chegar na atual forma.

Os primeiros óculos eram feitos de uma só lente. Tanto que a palavra "óculo" significa apenas uma lente como um monóculo. O instrumento completo com duas lentes montadas em uma armação no rosto é denominado um "par de óculos" ou abreviadamente "óculos" no plural.

Os primeiros modelos eram constituídos por duas lentes presas no meio por um rebite, que se abriam ou fechavam em forma de V, apoiando-se no dorso do nariz, sem as hastes laterais.

A mais antiga pintura de um par de óculos, datada de 1352, mostra duas lentes redondas como se fossem dois monóculos de metal presos no centro acima do nariz por um pino, ficando apoiado no dorso nasal.

Os óculos considerados mais antigos ainda existentes encontram-se preservados no Museu de Nuremberg e pertenceram ao burgomestre de Nuremberg, que viveu de 1470 a 1530. São constituídos de duas lentes biconvexas redondas unidas por uma sólida peça de couro.

Essas armações de couro foram sendo substituídas aos poucos por outros materiais: madeira, chifre, casca de tartaruga, osso, marfim e metais, tais como ferro, prata, ouro e outras ligas. Novos materiais foram desenvolvidos, modificados e introduzidos no mercado até chegar aos modernos e sofisticados compostos plásticos, resinas, náilon e policarbonatos, sempre em busca de um melhor design, de mais conforto, durabilidade, leveza e resistência.

Os primeiros óculos não tinham as hastes laterais e se apoiavam no nariz como os pince-nez, com uma ponte fixa e flexível que se prendia no nariz. Ou os lorgnon, que tinham uma haste lateral inferior para segurar com a mão.

No princípio a fixação era feita por cordéis ou fitas de couro amarradas atrás da cabeça ou passando por trás das orelhas pendendo sobre o peito com um contrapeso. Depois dos amarrilhos surgiram as hastes laterais com molas espirais pressionando as têmporas para segurar os óculos na posição. Em 1730 foram inventadas as hastes laterais rígidas para se apoiar nas orelhas e posteriormente apareceram as hastes laterais com angulação para melhor apoio e fixação no dorso do pavilhão auditivo. Mais tarde, em 1752, foram inventadas em Londres as hastes laterais dobráveis, facilitando bastante o manejo pelos usuários.

Lentes: do vidro ao telescópio

As primeiras lentes eram fabricadas por artífices muito habilidosos que poliam e lapidavam os cristais de quartzo ou pedras semi preciosas relativamente mais transparentes, tais como o topázio ou berilo, mas a tecnologia era primitiva e os óculos ficavam toscos e rudimentares. O desenvolvimento das lentes em maior escala e com melhor qualidade só foi possível com o desenvolvimento das lentes de vidro com boa qualidade óptica.

A existência do vidro remonta aos tempos pré-cristãos e existem registros históricos afirmando que no Egito, em 1500 a.C., já existia uma bem estabelecida indústria vidreira. Segundo a tradição acreditava-se que esse conhecimento vinha do sábio alquimista Hermes Trimegisto.

O encontro de vidro nas ruínas de Pompéia confirmou que o fabrico de vidro já era bem estabelecido antes do ano 79 a.D., quando houve a grande erupção do Vesúvio.

O vidro foi aperfeiçoado para ser usado como lente de óculos em Veneza no início do século 14, ficando famosas as lentes produzidas na Oficina Vidreira de Murano. Mais tarde, no século 16, floresceu na Alemanha uma indústria de produção de lentes de cristal de vidro de muito boa qualidade, particularmente na cidade de Nuremberg, que se tornou um centro de alta reputação.

A invenção do telescópio por Galileu em 1608 foi um estímulo muito grande para o desenvolvimento de lentes de alta qualidade óptica.

No início os óculos, toscos e rudimentares, eram vendidos por toda a Europa por mascates ambulantes. As pessoas experimentavam os óculos já prontos e escolhiam os que mais se aproximavam de suas necessidades. De fato, a prática de permitir ao cliente a escolha dos óculos continuou até o início deste século e, por incrível que pareça, com toda a alta sofisticação dos aparelhos de refração computadorizados, ainda continua viva até hoje. Mas com o aperfeiçoamento da tecnologia para a produção de lentes de alta qualidade, aos poucos essa atividade passou a ser organizada em corporações profissionais de alta reputação, até que, em 1628, na Inglaterra, Charles I outorgou uma carta real a Espectaclemakers Company, oficializando a profissão.

FONTE:
Autor do texto: Mario Luis de Camargo - médico e diretor clínico do Centro de Saúde Escola da Faculdade de Saúde Pública da USP.
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